Agamêmnon

14

Autor: Ésquilo

Capa de Livro: Agamêmnon

'Agamêmnon' é a peça que inicia e que compõe com 'As Coéforas' e 'As Eumênides' a trilogia da Orestéia. Neste conjunto, que conquistou a láurea do 18O agon ateniense, o gênio trágico de Ésquilo atinge certamente o seu píncaro. E ele o faz pela profunda visão que tem da natureza dos homens, de suas relações de poder e da infalibilidade final das razões de justiça sobre as de Estado e de sangue no universo da Grécia clássica, tal como a percepção e a reflexão coletivas inscreveram sua potência semântica nos mitos e em seus relatos e a irradiaram por mediação, não especular, porém simbólica, na criação deste primeiro expoente máximo da arte tragediográfica. Mas o que, acima de tudo, a eleva no vôo sublime de sua expressividade é a força com que sua linguagem criativa se desdobra e se plasma nas formas de seu verbo. E é neste aspecto que a presente versão realiza o seu maior feito, pois, como nenhuma outra, ela não se propõe apenas a produzir o mero texto claro e distinto da tragédia esquiliana, uma espécie de paráfrase mais ou menos próxima da organização sintática e vocabular do original. Porém, sem renunciar à fidelidade estrutural, filológica e crítica à sua fonte, empreende uma transcriação haroldiana da palavra em busca de sua pujança poética, em cujo círculo mágico de ressonâncias e conotações o espírito da língua pretende reencontrar o daimon da inspiração e da musa dramática. Eis o intento polifônico desse atrevido e bem-sucedido transcriador brasileiro. Seus textos, no entanto, não privam o receptor da vivência e da fascinação da palavra no reino encantado da revelação dos sentidos e das significações, para uma dessas descobertas em que a leitura em português e, mais ainda, a sua encarnação cênica podem propiciar.

 

 

Como citar este livro:

ÉSQUILO, 525-456 A.C.  Agamêmnon. Tradução, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

 

Artigo anteriorAs brumas de Avalon
Próximo artigoAna karênina