Autor: Gustavo H. B. Franco
O Brasil - sem estar envolvido em guerras ou revoluções - viveu, de fato, uma hiperinflação que nada deixa a dever ás outras de que se tem notícia. Circunstâncias políticas especiais permitiram que uma inusitada pilhagem do setor público tivesse lugar "em tempos de paz", através de uma extraordinária acumulação de deveres e compromissos impostos ao Estado, representando despesas em valores infinitamente maiores que as possibilidades de financiamento existentes. Em decorrência disso, verificou-se uma degeneração absoluta da intervenção do Estado na economia, tanto na área fiscal quanto na regulatória, da qual resultou a explosão da inflação. A crise desnorteou inteiramente o establishment intelectual. Ideias longamente estabelecidades sobre a industrialização, o papel do Estado e a inserção internacional dissolveram-se com impressionante rapidez. Velhos heterodotos, outrora jovens heróis, subitamente parecem comissários do povo em uma ordem comunista que não existe mais. O fim da hiperinflação revelou um Brasil muito diferente daqueles de poucos anos atrás, quando foi escrita a constituição de 1988. A mudança foi muito rápida e ainda não inteiramente amadurecida.
Como citar este livro:
FRANCO, Gustavo H. B. O Plano Real e outros ensaios. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. 358 p.